EMPRESAS & MERCADOS
ENTREVISTA COM MARTA MACEDO, ENÓLOGA DA QUINTA DO FILOCO
“As pessoas já começam a associar Portugal com vinhos de qualidade superior e a procurar-nos cada vez mais.”
A Sociedade Vitícola Foz do Távora está sediada em Tabuaço, na Quinta do Filoco, bem no coração da Região Demarcada do Douro. Marta Macedo é a enóloga responsável pela continuidade desta empresa e representa a terceira geração sempre com a paixão e a dedicação na persecução da produção de vinhos de qualidade. As vinhas e a adega foram modernizadas com equipamentos e técnicas próprias e é atualmente uma das maiores empresas familiares com maior área de vinha na região Demarcada do Douro.
Conte-nos a história da Quinta do Filoco?
A Quinta do Filoco é um projeto de três gerações. Começou com o meu avô, um homem de negócios que na altura tinha como atividade principal a construção de estradas e obras públicas, mas era sobretudo um homem de negócios, amante do Douro. Morava aqui em Tabuaço e acabou por comprar uma vasta área de terreno de vinha. Costumo referir que seria sempre um passatempo, uma vez que a atividade principal dele foi sempre a construção de estradas, mas como homem de negócios que era, quis edificar também uma adega. Fez a adega e manteve a tradição e as vinhas para vinificar, na altura, vinho do Porto. Não havia ainda aquele conhecimento de fazer vinhos DOC de qualidade e o focus principal foi sempre o vinho do Porto para vender a grandes empresas exportadoras, a granel, e assim conciliava as duas empresas, os vinhos, uma paixão, e as obras públicas, o negócio
(…) a primeira geração criou, a segunda geração dinamizou e a terceira geração chegou para arrojar e impulsionar todo o projeto no mercado(…)
A segunda geração manteve a tradição. O meu pai e os meus tios cresceram com as duas atividades, junto com o meu avô e mantiveram a empresa de obras públicas que ainda hoje está a laborar. Neste momento com presença em Angola mantiveram o projeto das vinhas, com uma vasta área de cerca de 130 hectares. Deram continuidade no sentido de fazer vinhos para vender a granel porque não tinham tempo para se dedicar a 100 por cento à venda dos vinhos engarrafados e de marca. Apostaram muito também na qualidade e diversificação de castas, no melhoramento das vinhas, fizeram também investimentos na adega e adquiriram novos equipamentos para a produção de bons vinhos DOC, já mais focados na qualidade, mas o objetivo principal era a venda a granel. De seguida veio a terceira geração. Aqui estou eu, a única na família que se licenciou em enologia. Peguei neste projeto um pouco de raiz, apesar de já ter muita coisa feita, o que é muito bom, o desafio foi criar a marca Quinta do Filoco. Criar a imagem, criar toda a envolvente, todo o projeto e apostar nos vinhos de qualidade, no mercado nacional e acima de tudo no mercado externo. Até agora tem corrido tudo muito bem. Resumindo, a primeira geração criou, a segunda geração dinamizou e a terceira geração chegou para arrojar e impulsionar todo o projeto no mercado. A segunda geração mudou os equipamentos de vinificação para começar a trabalhar em vinhos de qualidade. Apesar de, na altura, não haver muito know-how, nem muito tempo, fizeram sempre questão de manter a adega e apostar na qualidade com a aquisição de equipamentos de vinificação mais modernos, com cubas com controlo da temperatura para podermos trabalhar os vinhos com fermentações controladas e assim conseguirmos fazer sobressair e manter os aromas da fruta. A terceira geração está aqui, cheia de garra e força de vontade para dar continuidade. Tenho ainda um grande objetivo a curto prazo, que é produzir um vinho do Porto de excelência uma vez que neste momento só estamos a trabalhar com vinhos DOC. Este é o meu grande objetivo, com base nos vinhos do Porto já existentes na casa, do tempo do meu avô, que nós mantive-mos e guardamos, fazer um lote com um vinho do Porto de excelência em que a marca será Jeremias, o nome do meu avô, em homenagem a ele que começou por criar tudo isto.
(…) O Quinta do Filoco tem um pouco de tudo. Nós temos que ser muito diversificados para atingir todos os clientes. Temos branco, temos rosé e temos tintos, dentro destas gamas temos os reservas e os grandes reservas para diferentes tipos de cliente. E sempre importante termos diferentes vinhos. (…)
Qual é o portfólio da marca Quinta do Filoco?
O Quinta do Filoco tem um pouco de tudo. Nós temos que ser muito diversificados para atingir todos os clientes. Temos branco, temos rosé e temos tintos, dentro destas gamas temos os reservas e os grandes reservas para diferentes tipos de cliente. É sempre importante termos diferentes vinhos. Os Grande Reserva já foram medalhados. Temos o nosso 100 por cento Touriga Nacional que ganhou uma medalha de ouro no International Wine Challenge o que para nós é um grande reconhecimento, conseguirmos ter vinhos já premiados que nos colocam num mercado com muita qualidade e também é sempre uma boa ajuda para as vendas. Os brancos e os rosés têm sempre outro potencial para os mercados de calor, vende-se muito bem para destinos de praia e a aceitação tem sido muito boa. Temos diferentes vinhos para diferentes consumidores.
Para que países já exporta?
Eu comecei este projeto há cerca de oito anos, na altura procurei introdução no mercado nacional. É natural começar por aí, mas já na altura as vendas estavam um pouco difíceis no mercado nacional. Entretanto não podia parar, tinha o projeto e o investimento feito, então comecei á procura de mercados externos. O nosso primeiro mercado foi a Bélgica e através do SISAB PORTUGAL já conseguimos crescer ao conquistar novos países, neste momento já exportamos para Angola, Alemanha, Suíça, Holanda, Polónia, Estados Unidos, Canadá, Filipinas, Luxemburgo, Inglaterra, China, Japão e outros mais. Queremos continuar a crescer na exportação, nomeadamente para o Brasil, um dos mercados que também é bastante atrativo para nós.
Na sua opinião, qual é a imagem externa dos vinhos portugueses?
Portugal é pequeno. Nós no estrangeiro somos um país pequeno apesar de termos uma riqueza muito grande ao nível dos vinhos. As pessoas conhecem-nos pelo vinho do Porto, somos muito conceituados no estrangeiro pelo vinho do Porto, mas também pelos vinhos do Alentejo que foram um grande impulsionador da presença dos nossos vinhos DOC no mundo. As pessoas já começam a associar Portugal com vinhos de qualidade superior e a procurar-nos cada vez mais. Há mercados que ainda estão a ser trabalhados, como a China e o Japão onde apesar de já estarmos a vender lá, cada vez mais há uma maior procura. Diferentes mercados implicam diferentes gostos. Há mercados mais exigentes que procuram os nossos vinhos de qualidade superior, nomeadamente a Bélgica, ou a Suíça, por exemplo e depois outros mercados como Angola, China que ainda estão numa fase inicial querem começar com os vinhos de gama de entrada, a aprender a qualidade dos vinhos e a comprarem os vinhos mais baratos.
(…) Portugal é pequeno. Nós no estrangeiro somos um país pequeno apesar de termos uma riqueza muito grande ao nível dos vinhos.(…)
Quais os fatores de diferenciação dos vinhos produzidos nesta região?
O Douro é muita concentração. É muito calor, é riqueza e desde sempre foi reconhecido por ter muita qualidade. O clima e o solo da região, o nosso terroir xistoso, fazem com que aconteça uma concentração muito maior de aromas e de fruta. Toda esta complexidade de sabores e aromas surgem depois nos vinhos. A região do Douro engloba 3 sub-regiões com diferentes exposições, o Cima Corgo, o Douro Superior e o Baixo Corgo, todas com diferentes tipos de vinhos, uns mais frescos, outros mais concentrados, mas com uma riqueza e uma panóplia de vinhos distintos, muito bons. Acima de tudo, o que nós fazemos na Quinta do Filoco é usar as castas portuguesas, tradicionais no Douro (touriga nacional, touriga franca e a tinta roriz), que são castas para mim boas para trabalhar na maioria dos anos. Havendo anos excelentes e em que conseguimos concentrações acima da expectativa
Qual é a sua opinião do SISAB PORTUGAL?
O SISAB PORTUGAL foi uma boa surpresa Já tinha ouvido falar muito bem da feira. É um ponto de encontro fantástico a nível mundial onde podemos encontrar outros mercados e vou lá voltar na próxima edição, pelo terceiro ano consecutivo. Conseguimos encontrar lá mercados de diferentes geografias que nos ajudam a alargar e abrir o nosso leque de potenciais clientes. Tenho gostado muito da feira, foi lá que consegui um bom cliente da Suíça e temos tido muito sucesso. Aposta ganha, nunca se muda.