Notícias

Jornal público, Empresas & Empresários – 2012

Quinta do Filoco: vinhos austeros

 

Desde 2007 a Quinta do Filoco tem vindo a dar provas no mercado que dominam a arte de fazer bom vinho. Um negócio familiar cuja aposta passa pelo investimento no conhecimento. As suas mais recentes marcas são Quinta do Filoco, Filoco e Cincho.

 

Enquanto terra de vinho, de azeite e de uma gastronomia inconfundível, o concelho de Tabuaço tem paisagens únicas caracteristicamente durienses e as suas tradições estão, até aos dias de hoje, muito vincadas na vivência dos seus habitantes. O Empresas & Empresários foi até às suas terras, onde as lendas confundem os sentidos daqueles que por ela passam, transportando-os para a magia dos seus intervenientes — mouras encantadas e tesouros escondidos e todo um conjunto de histórias que tornam esta região muito especial. É precisamente aqui, no meio da beleza natural das margens dos rios Távora e Douro, que encontramos a Quinta do Filoco, – Sociedade Vitícola Foz do Távora, que tem vindo a desenvolver a sua actividade vitivinícola desde 1998, directamente de Tabuaço para o mundo.

O homem por trás da sua história é Jeremias Macedo, que com experiência, determinação e paixão pela terra onde nasceu, o Douro, foi adquirindo ao longo da vida vários hectares de vinha e edificou uma adega, com o intuito de produção de vinhos durienses e do Porto, concretizando, assim, um sonho de vida. Contudo, a sua neta, Marta Macedo, enóloga de profissão é que está à frente do projecto Quinta do Filoco desde 2007, conta que para o seu avô “a vitivinicultura começou como um mero passatempo“, uma vez que a sua profissão estava ligada às obras públicas. De facto, Jeremias Macedo tinha fundado em 1986 a sua própria empresa de construção civil para dar continuidade ao negócio de família, inicialmente abrangendo a comercialização de madeiras, passando depois pela instalação de uma unidade industrial de selecção e britagem de pedra. Paralelamente a esta actividade da construção civil e obras públicas, é que surgiu, pela mão dos filhos de Jeremias Macedo, a Sociedade Vitícola Foz do Távora, que opera no sector da produção e comercialização de vinhos do Porto e Douro, assim como de azeite. Estes aproveitaram as extensas vinhas trabalhadas pelo pai e decidiram com o mesmo know-how, paixão e dedicação dos seus antepassados em prosseguir com os vinhos de qualidade que a propriedade oferece. Para isso, as vinhas, que envolvem uma área de plantação de cerca de 130 hectares, e a adega foram modernizadas com equipamentos e técnicas próprias, sendo, actualmente, uma das maiores empresas familiares com maior área de vinha na Região Demarcada do Douro. “As propriedades do meu avô foram sempre cuidadas pela família para dar continuidade ao seu trabalho. Contudo, fizemos novas plantações com castas separadas e melhoramos todo o equipamento da adega para conseguir-mos fazer uma boa vinificação de vinhos DOCS“, conta Marta Macedo.

Quando Jeremias Macedo começou a dedicar-se à área vitivinícola, vinificava, essencialmente, Vinho do Porto que era vendido na sua totalidade a granel às casas exportadoras, o que na altura era um negócio bastante rentável. Com o tempo, a produção de vinhos DOC começaram a ser trabalhados de uma melhor forma após os seus filhos terem adquirido equipamentos mais modernos para adega, mas sempre com o intuito de venda de vinhos generosos e de consumo a granel. “Os sócios (o meu Pai e os meus Tios) vinificavam tudo aquilo que se produzia, desde os vinhos generosos aos de consumo, mas não tínhamos vinhos engarrafados para vender com marca própria“, salienta Marta Macedo. O Pai e Tios de Marta Macedo também chegaram a produzir vinhos do porto brancos, embora em pequenas quantidades, mas a produção esteve sempre centrada, essencialmente, nos vinhos tintos. A Sociedade Vitícola Foz do Távora já chegou a produzir cerca de mil pipas que incluíam, também, uvas que vinham de pequenos produtores mas que eram produzidas na Sociedade, uma vez que o que se vendia às casas exportadoras eram volumes bastante grandes que obrigavam à compra extraordinária de mais uvas.

 

Vinhos produzidos com paixão

Marta Macedo esteve sempre ligada à vida vitícola dos seus pais, daí que, após ter acabado a sua licenciatura em enologia na UTAD, não hesitou em juntar-se ao projecto da Quinta do Filoco, uma actividade que desenvolve até aos dias de hoje com verdadeira paixão. Contudo, quando se juntou ao projecto em 2007 a primeira missão que teve foi o desenvolvimento da marca e de uma imagem forte para lançar ao mercado. “Quando comecei a trabalhar com a Sociedade existia muito vinho de consumo que teve que ser trabalhado e vendido a granel para escoar muito do que estava armazenado na adega, a maioria deles já engarrafados desde 2004 e colheitas de 2005. Para isto tivemos que trabalhar numa marca e numa imagem para nos lançarmos na conquista do mercado“, refere Marta Macedo. A partir daqui a evolução da Sociedade Vitícola Foz do Távora foi bastante positiva, sendo que hoje contam com três marcas de vinhos: Quinta do Filoco, Filoco e Cincho. Para além disso, têm vindo a aumentar a sua capacidade de engarrafamento que atinge cerca de 200 mil garrafas ao ano de vinho de consumo, uma situação que a empresa espera que ajude a reduzir as vendas de vinhos a granel. “Até a data tivemos a necessidade de vender vinhos a granel para termos algum suporte financeiro mas queremos reduzir essa venda para poder-mos colocar todos os nossos vinhos engarrafados no mercado“, garante Marta Macedo.

O primeiro engarrafamento oficializado por Marta Macedo ocorre em 2008, com o nosso Quinta do Filoco Reserva Tinto 2007, cuja produção atingiu uma quantidade de cerca de 15 mil garrafas, aproveitando os vinhos tintos engarrafados da colheita de 2005, que lançamos com a marca Filoco. Este vinho resulta de uma apurada selecção de castas, como a Touriga Nacional, Touriga Franca e Tinta Roriz. Com uma cor rubi, este vinho apresenta um aroma intenso acompanhado com notas balsâmicas, com um estágio em barricas novas de Carvalho Francês, na boca revela-se um vinho encorpado e elegante. Para além deste vinho, também foi lançado, nesse mesmo ano, a gama de vinho branco Filoco Reserva 2007, elaborado com uvas das castas Malvasia Fina, Rabigato e Viosinho, provenientes de vinhas plantadas acima dos 500 metros, que lhe atribuem uma frescura inigualável. Para além destes dois vinhos a empresa está neste momento a comercializar mais três marcas de vinho tinto e duas de branco: o Cincho Tinto, uma gama mais orientada para o bag-in- box e que é uma produção de 50 mil litros; o Filoco Branco 2010, Filoco Reserva Branco 2009, o Filoco Tinto 2009, Quinta do Filoco Reserva Tinto 2007 e o Quinta do Filoco Grande Reserva Tinto 2007. Quanto aos monocastas, a Quinta do Filoco lançou ao mercado, uma excelente Touriga Nacional, com uma produção pequena e só em anos excepcionais é que é lançada, como o Quinta do Filoco Grande Reserva Touriga Nacional 2009.

A Quinta do Filoco já recebeu 4 medalhas desde que começou na comercialização dos seus vinhos, 2 medalhas de ouro no Mundus Vini na Alemanha, nos vinhos Quinta do Filoco Grande Reserva Touriga Nacional 2009, e outra no Quinta do Filoco Reserva Tinto 2007, mais 2 medalhas no concurso International Wine Challenge, ouro para Quinta do Filoco Grande Reserva Touriga Nacional 2009, e prata para o Quinta do Filoco Reserva Tinto 2007, tendo ainda muito boas pontuações nas revistas Wine & Spirits 93 pontos, e 89, 90, 91, na Wine & Spectator, no exterior e 17 pontos nas Revista de Vinhos e Wine, do mercado Nacional. As exportações rondam as 100 mil garrafas ao ano destas três gamas de vinhos que vão, essencialmente, para Angola, Suíça, Polónia, Filipinas, Reino Unido, Estados Unidos, Japão, China, Macau, Singapura, Holanda e Bélgica. Cerca de 90% da produção da Quinta do Filoco é destinada para exportação e o Brasil, a Suécia e o Canadá são os próximos mercados na mira da empresa. A nível nacional, estes vinhos podem ser encontrados no El Corte Inglês, onde os Grandes Reservas têm registado uma excelente aceitação e onde se espera aumentar a procura. “O nosso objectivo é crescer ainda mais em Portugal e fazermos com que as pessoas passem a conhecer e comecem a falar no Filoco“, destaca Marta Macedo.

Na hora de se fazer o vinho, a Quinta do Filoco aposta sempre na aquisição de novos conhecimentos que permitam produzir o vinho da melhor qualidade possível para oferecer aos seus futuros clientes. Para isso, contam com a ajuda de uma equipa de viticultura e de enologia que trabalham em conjunto para desenhar um estilo clássico onde se destaque sempre a intensidade, a estrutura, a complexidade, o equilíbrio e a elegância de um bom vinho final. Mas qual é o segredo para se produzir um bom vinho? Marta Macedo não tem dúvidas quanto à sua resposta ao afirmar que este só pode ser conseguido se houver “uma simbiose correcta entre a uva plantada na vinha e o bom tratamento ao que depois é sujeita na adega“. Para isso o trabalho feito durante a vindima é bastante minucioso e é aí onde a selecção das castas é feita. A fase de corte é feita por cerca de 50 pessoas ao longo de um mês e começa nas zonas mais baixas, local onde as uvas maduram mais cedo. Após um mês é que o corte passa a ser feito nas zonas mais altas da vinha uma vez que por essa altura já estão maduras o suficiente para serem colhidas. Quando as uvas chegam à adega a vinificação das castas é feita em separado, não havendo mistura de lotes, sendo que só no final é feito o “blend” das percentagens de vinho que sejam consideradas a realizar. Numa adega equipada com 12 cubas de fermentação, cada uma delas com capacidade de 17 mil litros, e com uma capacidade de armazenamento de 1 milhão de litros, a QF – Sociedade Vitícola Foz do Távora vinifica todo o seu benefício, que ronda cerca de 250 mil litros de vinho generosos, que só depois é vendido a granel às casas exportadoras. O excedente é vinificado para vinho de consumo.

No que diz respeito aos vinhos monocasta, estes apenas são produzidos conforme o ano qualitativo do vinho. “Até agora não tínhamos feito monocasta porque preferimos sempre fazer um blend de três castas para ir buscar o melhor que cada uma tem. Por exemplo, em 2009 o nosso Grande Reserva Touriga Nacional estava em excelentes condições, com muita intensidade e riqueza e bastante concentrada pelo que optamos por fazer 1300 garrafas”.

 

“Os vinhos do Douro são mais intensos”

Localizados em pleno Cima Corgo, a Quinta do Filoco – Sociedade Vitícola Foz do Távora tem ao seu favor uma excelente exposição solar, aliada a altitudes distintas, entre os 50 e 550 metros, e solos xistosos que oferecem um terroir único que permite a criação vinhos de qualidade superior. Ao longo dos 130 hectares de vinha distribuídos pelas várias quintas da empresa, ressaltam à vista dos seus visitantes os extensos socalcos e longas linhas de vinhas ao alto, onde podemos encontrar as castas mais nobres da região, como a Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Roriz, Tinta Barroca, Tinto Cão, Sousão, Malvasia Fina e Rabigato. O que muitos consideram ser um segredo aqui é a sabedoria e a paixão, um saber aproveitar a variedade de castas, as condições do clima e a qualidade dos solos: uma mistura que resulta numa gama de aromas que nos conduzem a um mundo quase mítico e uma paixão autêntica herdada pela família Macedo. Todas estas qualidades são suficientes para tornar os vinhos do Douro muito especiais e têm contribuído para que a sua qualidade tenha melhorado. “Hoje se produz mais e melhor vinho no Douro, porque os produtores se começaram a aperceber das verdadeiras potencialidades desta região. O que diferencia um vinho do Douro de um vinho do Alentejo, por exemplo, são os aromas, a complexidade de boca Os vinhos do douro são muito mais intensos“, destaca Marta Macedo. Por estas razões, e apesar do actual contexto económico, é que Marta Macedo acredita que “o Douro Vinhateiro vai sobreviver“, mas para isso é necessário “apostar mais na exportação“, para que a qualidade duriense seja cada vez mais reconhecida.

 

Os próximos projectos que Marta Macedo espera concretizar são a “construção de uma adega de sonho“, localizada no meio das vinhas e que facilitaria, sobretudo, o transporte das uvas. Para além disto, tem também planificado para os próximos tempos uma surpresa que vai envolver um vinho com a marca Jeremias, para honrar o seu avô, e que será lançado quando a empresa esteja com maiores bases no mercado nacional, e que Marta Macedo promete que vai ser “um vinho estrondoso“.